sexta-feira, 16 de julho de 2010

A República dos Ratos


Ratos e ratazanas entre outras formas humanas designados por um só instinto – macabro, diga-se de passagem – dobram-se diante do Reino de Grandes Orelhas e Rabos. São milhares e a cada ano mais e mais ratinhos nascem, e mais e mais formas humanas procriam-se naquela República Fedorenta e Repugnante.
Vivendo como minhocas, por baixo da terra mexem-se e improvisam planos. Depois, a noite, na superfície onde o Reino maior, mas não menos sagrado que o próprio Reino de Grandes Orelhas e Rabos, não é por eles comandado, miram na única verdade que ainda não saiu de moda: a morte.
De fato, não caminham, e sim rastejam seus corpos gordos e peludos pelos caminhos tortos e de menos trânsito. Acolhem suas asneiras diárias em bandejas folhadas a ouro, e bebem do melhor vinho. Lambem os dedos, contam bravatas e são restituídos a pedestais “santificados” por eles mesmos.
Coçam. Correm e babam. Babam novamente e correm mais um pouco. O velho rabão, que se não ratos fossem poderia afirmar que seriam raposas velhas, entrelaçando objetos que bóiam sobre o esgoto, digo, sobre o Reino de Grandes Orelhas e Rabos.A orelha, apesar de ser uma boa válvula de escape quando o perigo se chega, não vale muito. Poucos escutam e deixam-se escutar pelos outros “irmãos”. E, se a peleia abre o espetáculo aí sim que não tem jeito. Orelhas prá que te quero? Se é mesmo o encanecido e imundo rabão que se adéqua de arma para bons combates.
E na República dos Ratos, por vezes tão parecida com a nossa, humana república, o cinismo, a ganância, a prepotência e o despreparo comandam a Lei.
Apesar de ratos serem sempre ratos, na República dos cujos, o mandante não tem rabo tão pouco grandes orelhas. Fala outra língua e não caminha de quatro. Claro que ainda rasteja, fede e é incrédulo de sua própria existência.
Mas não é rato não. Quem governa a República é uma forma humana. Ratos, ratinhos e ratazanas curvam-se diante de tão perversa imagem. Inclinam-se desejos. Levantam-se opiniões. Deitam-se servos.
E lá estamos todos nós. Um atrás do outro, como em fila indiana, seguimos rumo aquele esgoto fedido. Príncipes e princesas. Vacas e cachorros. Todos, todinhos mergulham naquela gosma esverdeada, que está bem abaixo de qualquer preceito.
Marchamos cegos pro inferno das almas. Mas convictos que o esgoto é o melhor lugar do mundo para se viver em paz, quando a supérflua superfície esta desvirtuada, descredenciada da Convenção Divina

Sigam-nos, os que carregam consigo o peso da consciência, os que terminaram a tempo de bolar o melhor plano pra explodir com tudo. Sigam-nos os cretinos, infiéis e apáticos. Os indiferentes, indolentes e inertes. Os inativos, os miseráveis.
O esgoto é o melhor lugar também para os covardes, que, assim como os que habitam o Reino dos Ratos, podem esconder-se dos olhares, das dívidas de paz e das promessas falsas, de contradição. Cobre-te de ouro, e vem.

Para Lya Luft, a que me inspira... A inspiração!
Beijolinhas,
Fernanda.

4 comentários:

Mario Rezende disse...

Obrigado, Fernanda. Já vi que estou entre os seus favoritos, você também está entre os meus, só falta me acompanhar. Eu também escrevo contos, mas acho que vou criar outro blog para publicá-los, por enquanto alguns estão publicados junto com outras poesias em www.recantodasletras.com.br/autores/mrrezende, me dê o prazer da sua leitura e não deixe de comentar.
Muito sucesso pra você, está prometendo.
Tentei mandar um e-mail pra você pelo yahoo mas não consegui, voltou.
Grande abraço

JH disse...

Olá!
No pouco que li, vi que tem um ótimo texto, que cativa, prende, chacoalha com beleza. Vou acompanhar mais vezes. Obrigado por deixar comentário em meu blog (que anda beeeeem desatualizado... ;-)
Abs,
JH

Anônimo disse...

para entrar em burraco de rato, de rato eu tive que transar - tambem!

e "QUE" escritora é voce, gauchinha!

Anônimo disse...

Muito legal!! Você tem o dom das palávras!! Eu li e gostei demais.
Beijo.
Ass. Pedro Algayer